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segunda-feira, 21 de março de 2011

Preocupações, Desesperos: Suicídio



"É sempre melhor ser otimista do que ser pessimista. Até que tudo dê errado, o otimista sofreu menos."
(Armando Nogueira)

Essa busca pela felicidade, geralmente é também procurada através do esquivamento do sofrimento. Alguns, conseguem ter a compreensão que por vezes o sofrimento pode possui um papel visionário no caminho da felicidade, seja nos ensinando através de erros ou nos moldando através de decepções.
Drummond, dizia que muitos possuem uma 'prudência egoísta' onde, esquivando-se do sofrimento, perdem também a felicidade. Ele, fazia uma distinção bastante simples do que é dor e do que é sofrimento. Conforme nosso pensador, a dor é uma variável definitiva, porém seu sofrimento, opcional:

".Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. .."

Acumular este conhecimento é algo cronológico, recordo-me que a tempo não muito atrás, eu ainda possuía um sentimento de culpar-me de inumeráveis coisas muito constante. Durante um período conturbado, em que colecionava dívidas, desentendimentos pessoais, falta de perspectiva profissional e um quê de carência sentimental, me recordo de ter pensado na idéia de suicídio.
Observar o suicídio assim, distante e após uma superação - afinal todos nós sempre nos sentimos melhor para contar sobre uma situação constrangedora apenas na sua superação - recorrentemente leva a opnião de que quem o nutre é um idiota, por que é uma idéia que não leva a nada, bla bla blá... Porém a pressão que certas preocupações e uma infinidade de idéias e aflições psicológicas podem exercer numa mente insegura é algo avassalador e por muitas vezes subjulgamos isso.
Naquele momento, eu conseguia raciocinar pouco sobre a questão, de fato, as perspectivas eram poucas e foram várias e recorrentes as vezes que, na frente do caixa eletrônico via o saldo da conta num valor alguns reais maior do que a conta que segurava na mão pra pagar, somadas as incontáveis vezes que ouvia reclamações paternas sobre balbúrdias tão estapafúrdias que eu simplesmente me calava pra não disperdiçar energia com algo que eu sabia que não mudaria. Havia desistido.
Toneladas de cobranças, pouco a pouco, como uma faca apontada para sua cabeça, minavam mais a esperança de que as coisas melhorariam e eu perdia aquilo que é mais precioso na vida: o gosto de viver.
Apesar de manter os compromissos normalmente, inclusive com amigos, era um sofrimento silencioso e solitário, por vezes minimizados por um ou outro amigo que conhecia a situação.
Lembro-me de uma das vezes que muitas coisas deram errado num dia, ter conversado com um amigo e após isso ter andado sem destino, como um bêbado, através de grandes avenidas da cidade, Paulista, 23 de Maio, Tiradentes... durante o trajeto eu olhava pelas luzes dos carros - alheios ao que eu vivia naquele momento - e olhava pro céu e iniciava uma conversa louca com Deus na qual o acusava de omissão por aquela minha situação e me questionava desesperadamente o porquê de n coisas na minha vida terem dado errado, os porquês de meus planos não se concretizarem e inúmeros questionamentos como uma ultima e desesperada prece por socorro.
Ao chegar - já a noite, após horas de uma caminhada quase zumbi - nas margens de um rio ali na zona Norte numa grande avenida em que apenas carros habitavam a paisagem. Ali, me vi só.
Solitário, na noite escura, no frio, molhado pela garoa, comecei a pensar no que realmente valeria a pena nessa vida, nas coisas que escutara, nos sonhos que não aconteceram, na solidão, nas perspectivas e uma série de auto-cobranças que me jogavam o olhar pro fundo daquele rio que corria sozinho pra algum lugar, onde eu achava que talvez selasse ali os meus sofrimentos. Pra sempre.
Ali, debruçado naquela grade, fiquei por uma hora, ou mais, não me recordo, a bolsa colocada de lado, objetos, ainda pensando no que poderia valer a pena suficientemente pra que ainda continuasse a viver.
Mexi os bolsos, encontrei alguns reais, o celular e a carteira da faculdade. Olhei pro céu, na esperança de uma luz iluminar meu desespero, de encontrar um caminho.
Lembro de observar o cartão da faculdade, com uma foto minha e o curso escrito logo abaixo.
Em meio a choro, desespero e exigências divinas, naquela hora, alguma coisa me fez observar que... sim, ainda havia uma luz.. que talvez eu precisasse me empenhar mais, me dedicar mais, talvez estivesse entregando os pontos muito cedo. Olhava para aquele cartão, um desejo tão sofrido, uma luta tão dificil que foi chegar ali, lembrei dos dias que economizava dinheiro de condução para pagar o cursinho pré-vestibular e andava horas para chegar ao trabalho ali pelos meus 17 anos, das economias, das noites mal dormidas. O sonho da melhor universidade, da carreira, da vida.
E ali, no meio das lágrimas, eu percebi que havia chegado no meu limite, mas que assim como muitas coisas na vida, talvez a gente também canse de sofrer.
Drumond, dizia que 'a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional'.
Esse dia, tão marcante, de fato sepultou o fim de um tempo: algumas coisas começaram a engrenar aos poucos e eu, adquiri uma paciência religiosa e silenciosamente fui traçando minhas metas e objetivos, e com o passar do tempo fui obtendo pequenas vitórias, mas que foram se somando uma a uma.
Contudo, aquele momento foi um marco e me serviu de base pra muitos dos pensamentos que tenho hoje sobre a vida.
Poderia ter um fim trágico, assumo que poderia. É ousado, mas perigoso chegar ao limite.
Hoje, tento sempre quando alguém vem conversar comigo, desanimado da vida, oferecer uma perspectiva bacana. Evito neglicenciar aos outros, como muitos fazem, assim como eu já o fui e que talvez com menos discernimento em um momento crucial, eu teria sentido aquela agua gelada pela última vez na vida.

10 comentários:

  1. que forte esse post.
    e que bom que tudo termina bem

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  2. Passando para dizer q voltei e agradecer o carinho de todos durante a minha ausência em viajem ... volto com calma para ver as postagens ... bjux

    ;-)

    ps: o título deste post me chamou muito a atenção e tive q lê-lo com vagar e cuidado ... excelente ... forte ... mas termina bem ...

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  3. Saber se reconstruir, suportar apesar de tudo, ter esse fibra é o mais fundamental na vida. Parabéns pra ti! Eu também ando precisando dela nestes tempos.

    Abç!

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  4. Wow, intenso, até por estar num momento parecido, mas longe de pensar em suicídio, deixo isso pro meu passado de 14 aninhos onde quase tentei me matar duas vezes, e confesso que só não o fiz por medo da dor, mas enfim.... depois de crescer fui vendo que enquanto há vida, há esperança. Hoje só penso em suicídio num único momento da vida. Quero morrer no meu auge, quando ver que as possibilidades de realizar forem morrendo, me mato. Acho o suicídio consciente o ato de maior liberdade e domínio da vida que um ser humano pode demostrar, mas enfim, achismo que com o tempo podem mudar

    abs

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  5. encontrei mais uma fenix! e toda a conquista baseada no esforço é infinitamente mais prazeirosa pelo resto da vida. A sua fortaleza interna te impediu de cometer um pulo para o fim e te entregou um verdadeiro salto para sua certeza: o futuro sempre será um mistério que revelamos no que fazemos hoje. Não importa quem você seja, quanto dinheiro tenha ou o que tenha feito o passado, você pode ser sempre uma versão melhorada de si próprio (palavras daquela que está na sua lista de músicas)...

    estive em sintonia apurada com seu post... motivos óbvios... renascemos de nosso passado para brilhar com novas idéias...

    um beijo especial por este post...

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  6. É melhor ser pessimista do que otimista. O otimista tem esperança que algo pode dar certo, e sempre se decepciona. O pessimista está sempre preparado para o pior, e nunca é pego de surpresa pelas adversidade.

    E sinceramente, admiro muito os suicidas. Não é qualquer um que consegue não. Precisa de muita coragem e muito desapego. Eles são heróis.

    Beijo SAM!

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  7. Pelos padrões do Lobo, sou uma fraca rsrsrs... sou uma otimista de carteirinha, sempre fazendo planos pro futuro, quebrando a cara e achando que valeu pela experiência, pelo aprendizado. Ficam cicatrizes, sempre. Mas foi um belo aprendizado: você teve coragem de olhar a morte de frente, de tomar a decisão se preferia segui-la ou viver e enfrentar a dor. Você conseguiu dar a sua resposta. Isto é um presente que você vai levar para o resto da vida, lucky you ;-)

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  8. O+*, pelo meus padrões, eu também sou um fraco XD.

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  9. O que será que é ser forte hoje não é mesmo?

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  10. Esse post caiu como uma luva em mim ;D

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