
Nesta avenida existe uma arvore frondosa, verde, viva, uma acácia charmosa e que sempore encantou todos, por ser a mais alta, a maior e a mais bela arvore de toda a minha avenida.
Ela tem a minha idade e em termos a minha história.
Muita gente a invejava por ela ficar exatamente na frente de casa e eu a amava.
Desde meus primeiros anos eu subia na mureta do medidor de casa e ficava sentado sobre o murto da rua, vendo o movimento e admirando a bela arvore.
Ela era uma testemunha oculta da minha vida. Foi ali que fiquei, junto a ela em momentos de reflexão, nas minhas criancices, nas brincadeiras de menino que não podia ter muitas coisas mas, das singelas da minha vida ali perto ela estava. O grande charme de casa sempre foi ela, até porque eu amo arvores mas a minha acacia - ja que se intitulava seu dono - era a minha "querida" era ela que substituiu o carinho que não tive por muito tempo dos bichos de infancia.
Minha vida inteira transcorreu sob sua vista e vários foram os momentos em que me debruçava no muro de casa sob a sombra de suas folhas e ficava ali a pensar como se ela pudesse ser uma conselheira e me desse calma para pensar.
Eu a amei.
Sábado um veiculo se chocou fortemente contra ela - no quinto acidente em 3 anos - e dessa vez ela foi gravemente ferida, ontem a noite ao voltar da rua, eu a olhei.. como alguém que sente uma saudade postuma de um ente seu e temi que fosse a ultima vez que a veria. O acidente a deixou praticamente partida em duas. Certamente seria sacrificada, atestavam vizinhos. E eu como alguém que diz que um parente seu não sobreviveria, lamentava e torcia para que tudo desse certo.
Hoje cheguei da faculdade no horário de costume. De longe podia avistar que os galhos depositados na via eram muitos superiores a onteme ao chegar atestei sua falta entre as demais.
Minha princesa era apenas um monte de pedaços de tronco cortados enfileirados na via.Foi triste, é como se me levassem alguém, ela era a minha testemunha e minha conselheira oculta.
Sinto dor, porque era uma coisa de criança. Desde bambino eu a amava.
Me debrucei sobre ela, toquei-a como se quisesse abraçá-la solenemente uma ultima vez. Recolhi um pequenino pedaço do tronco e levei para casa, mas ao recolhê-lo pensei: não é a parte mais bela.
Voltei a rua, e achei um galho com a maioria das folhas murchas, mas uma parte permenecia bela. Dela eu tirei um trecho e trouxe para casa:"Se for de recordá-la lembrarei de quão bela foi em meus dias."E assim mantenho esse pedaço dela, um lindo galhinho que representa para mim o fim de um período simbolicamente. É estranho, mas ela era a minha maior ligação que eu ainda tinha com minha infância, a minha maior e mais bela ligação de minha triste infância.
Talvez seja um inicio de uma nova fase, dessa vez sem a minha grande amiga.